quinta-feira, 8 de abril de 2010

Viagens e Passeios - Parte II


Ainda com o gosto do último passeio e um certo brilho no olho, Ele volta para o cotidiano. São sete dias de provação. Física e mental. Apesar do efeito positivo da sensação de ter se aproximado do Amor, muita energia foi dispensada para chegar até tal aproximação.

Ele precisa concentrar o que resta de força para manter a cabeça no lugar. São os últimos dias na dimensão cotidiano.

Para esta dimensão, Ele não leva a inocência. “Definitivamente não é lugar para ela” Ele pensa. Durante essa provação Ele vai se aliar somente com a solidão. Da forma mais intensa.

Só assim para não fazer espalhar as seqüelas da irritação irracional que o cotidiano causa.

O principal objetivo da solidão é preservar os poucos que acompanham, e os que têm a oportunidade de acompanhar, a caminhada que Ele tem feito pelo Mundo. Ele não quer correr o risco de machucar as pessoas que Ama. Não por causa do cotidiano.

Por sete dias Ele não consegue observar ou sentir. Recebe muitas pancadas. Sente o espírito reclamando. “Calma”...Tentou lembrar do Amor para anestesiar as pancadas...mas sentiu abandono. Nessa dimensão as coisas ficam confusas. Não é ilusão.

Muitas vezes, os demônios do cotidiano tomam a forma mais encantadora para plantar a semente do desânimo e da culpa. Mas Ele está protegido pela aliança temporária com a solidão, que de uma forma esquisita, mata qualquer tipo de sentimento. Inclusive os ruins.

Então, Ele consegue assimilar bem os golpes.

No fim do sétimo dia, Ele comemora.

Finalmente vai ter seu reencontro com o Sol. Durante a comemoração o espírito vai, lentamente, cicatrizando as feridas da aliança feita com a solidão. Ele volta a observar e sentir.

Percebe, então, que não é o único a fazer uso de tática pra agüentar a dimensão do cotidiano. Ele diminui o ritmo da respiração. O coração se aquece.

A solidão não é mais necessária. Por causa das inúmeras situações estressantes durante o passeio no cotidiano, Ele se reserva o direito, no momento, de mandar a solidão para a puta que pariu. Até segunda ordem.

Só então Ele relaxa. Se encosta na janela do seu quarto, acende um cigarro e apaga a luz. A lembrança de antes do mergulho no cotidiano faz com que os seus olhos brilhem forte.

A moça bêbada que passa pela rua no momento, olha para a janela, mas não consegue diferenciar a brasa do cigarro e o olho cintilante. O brilho é intenso.

Ele procura algumas explicações para esse brilho. Pensa em várias teorias. Mas subitamente, um pensamento o conforta, e ao mesmo tempo, esclarece a situação “Foi real”. Simplesmente isso: “Foi real”.

Ele se deita com cabeça e coração cobertos por cores, que há tempos não enxergava.

Matou a ansiedade. Mais uma vitória.
Dormiu sorrindo...

Continua...













Desenho: Carolina Poletto
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